sábado, 7 de agosto de 2010

Encontro de almas


"Que apesar dos pesares, conserva o bom-humor,
caça nuvens nos ares, crê no bem e no amor."

- Carlos Drummond de Andrade -



De repente, Joyce cresceu. Começou a namorar um homem dez anos mais velho que ela e, aos 22, fez festa de casamento e mudou de casa, levando o marido e uma mala repleta de certezas. Para marcar a passagem, reuniu os amigos numa festa linda. Fui tomada de assalto, mas achei aquilo tudo de uma maluquice admirável. Parecia que o mundo começava naquele dia, e começava mesmo. No momento dos votos, que ela mesma escreveu, os convidados ouviram o segredo: "Porque aos 22 ou aos 32, amadurecemos sempre". Era surpreendente, ela não tinha medo. Quando cheguei em casa aquela noite, guardei mais um desejo na minha caixinha secreta, o de jamais me amedrontar diante dos desafios. Sou muito orgulhosa de perceber como sabiamente ela constrói um futuro de sonhos compartilhados. Agora, quero deixar como herança para Joyce todos os desejos guardados na caixa. É a relíquia de uma vida inteira, cuidadosamente bordada com os fios das angústias e alegrias que senti ao longo da estrada. Coisa para gente grande e muita, feito Joyce. Matéria de adultice. Junto com a caixa, deixo uma dedicatória com votos de uma velhice adorável, com muitas rugas, pois são as rugas a memória do corpo, e o mais profundo desejo de que perdure o encontro de almas que eu vi oficializar.

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