Depois de tanta chuva, faz sol no Recife. Os dias mais solares fazem as coisas melhorarem aqui dentro também. Aos poucos, eu vou conhecendo os meus abismos e aprendendo a lidar melhor com as minhas próprias ruínas. Toda aquela angústia paralisante já não me sufoca mais. É verdade que ainda não aprendi direito a lidar com a minha própria morte. Mas, sei que isso leva tempo e não tenho pressa. Ontem, tive uma tarde inteira regada a filmes, ao lado de uma boa companhia sagitariana. Um deles, de nome muito peculiar, deixou-me deveras intrigada: "O filho sem mãe". Eu, que só tive mãe a vida inteira, tenho dificuldade até para imaginar como seria isso. Penso que um filho sem mãe é feito uma criança impossibilitada de correr diante de um descampado enorme, verde, em dia de céu azul. É assim que me sinto quando penso que posso, um dia, perder a minha mãe: uma menina de pernas assassinadas. Dá uma dor de tirar o fôlego, maior que a morte. O que mais restará a perder quando eu, que só tenho mãe nessa vida, ficar sem a minha?
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