domingo, 25 de julho de 2010

Noites de terça


Pegou a lâmina e começou a raspar as pernas enquanto blasfemava impossibilidades. Do outro lado, ele observava atônito, quase sem acreditar na intimidade despudorada que se desnudava a sua frente. Quando se deu conta, já não havia mais tempo, os cabelos irretocavelmente lascivos dela sugaram-lhe o pensamento, o hálito, a fome. Lobotomia. Mas sexo, ela alertara, só em noites de terça, porque devota fiel do improvável. Desejo santo. Amor pagão. Eroticamente exposta, seu maior prazer era ter outros corpos entranhados ao seu, tão esquerdo, tão líquido, tão impuro. Vivia pelo seu lado mais intenso, o avesso. Mas era de pudores a sua vida secreta: quanto mais expunha, mais escondia.

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