quinta-feira, 15 de julho de 2010

Uma lágrima e uma reza


Ela era dona de poucas palavras e falava sempre com o timbre baixo, como se tivesse vergonha. Tinha intensos olhos castanhos colocados numa face branca extremamente expressiva. Os cabelos pretos soltos eram o único adorno do rosto sem enfeite. Andava de cabeça baixa, tendo o cuidado de ser gentil e educada, com a coluna curva sendo sustentada por um corpo magro. Agia desviando a fala, curvando o olhar e disfarçando a existência. Ensimesmada, vestia-se com recato, usando saias que passavam da altura do joelho, mas tinha a nudez estampada nos olhos. Ao longo da vida, aprendeu a não ter pressa. Com dinheiro pouco e leitura nenhuma, vivia mesmo era de fé. Nas noites de tristeza, rezava olhando para a Lua, com esperança de que suas súplicas chegassem ao santo, o Jorge. Fazia isso num ritmo compassado, lento. Uma lágrima e uma reza. Uma reza e uma lágrima.

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