sábado, 17 de julho de 2010

Sobre o tempo...


Recife, 17 de julho de 2010

Natália,

Já passam das duas da manhã e, mais uma vez, a insônia não me deixa dormir. Faz alguns dias, veio morar dentro de mim uma agonia transbordante e sempre que isso acontece, a solução que eu encontro é pensar, sentir e escrever. Hoje, endereço a você as minhas linhas. Estava agora mesmo lembrando dos meus tempos de menina, das brincadeiras no quintal de casa e do cheiro da comida da nossa avó. Lembrei-me também da sua primeira infância e de como você está ficando uma menina cada vez mais esperta e inteligente. E fiquei triste ao perceber o quanto eu posso acompanhar pouco, já que desde sempre você foi morar num estado diferente do meu. Bateu uma saudade anestesiante, dessas que paralisam a gente só de lembrar, sabe como é? Fiquei toda eu refém de um tempo pretérito. Receio que tudo isso esteja ficando complicado demais para você, minha criança. Mas, receio também não poder explicar agora. Existe algo, no entanto, que você precisa aprender desde já: o tempo é precioso, Natália. Todo o tempo, o que passou e não volta mais, o que virá e a gente não sabe como vai ser e, principalmente, esse de agora, que a gente vive e, muitas vezes, não se dá conta. O tempo não é feito tarefa de casa, que a gente erra, apaga e começa de novo. Ele não volta. Aprende, pois, a respeitá-lo. É que nem o brigadeiro que a gente faz para assistir ao filme da sessão da tarde: se demorar muito no fogo, queima e faz bolinhas no fundo da panela. Aí, então, só fazendo outro. Está aí uma lição para a vida inteira: não é possível fazer outro tempo, sempre restarão alguns gostos amargos pelo caminho. Mas não se preocupe com isso, algumas vezes a amargura, eu já aprendi, é inevitável. Tente, apenas, não extrapolar na dose. O tempo é, também, um santo milagroso, capaz de afastar esperanças falidas e sonhos frustrados. É tão sabido, esse tal de tempo, que cura as nossas feridas, mas, não nos permite esquecê-las, porque é lembrando a tristeza que a gente reconhece a felicidade. Porém, isso é coisa que você vai aprender melhor quando estiver mais velha, com o tempo. Agora, preciso tentar dormir. Amanhã é novo dia e espero acordar com menos agonia dentro.

Amor,

Duda

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